Quando bem planejadas as construções de terra crua são duráveis
A terra crua é o material de construção mais antigo do mundo. As técnicas de construção com barro datam de mais de 9.000 anos. Todas as culturas antigas utilizaram o solo para a construção de casas, fortalezas e obras religiosas. Um exemplo é a grande muralha da China, que foi construída 4.000 anos atrás, inicialmente com terra compactada (taipa de pilão), e posteriormente forrada com pedras naturais.
Ao contrário do que muitos possam imaginar, a estrutura não é frágil. Quando bem planejadas, as construções realizadas com a utilização do próprio solo podem ter uma durabilidade enorme.
As características mais importantes para melhorar a resistência sísmica de uma construção em terra são as seguintes:
Escolha adequada dos materiais;
Presença do nível freático a profundidade adequada;
Boa qualidade da execução;
Definição de uma solução estrutural robusta.
Além de resistentes, elas oferecem muitas outras vantagens, tais como:
É um material ecológico, disponível no mundo todo
É um excelente isolante do calor e do frio;
Proporciona isolamento acústico;
Cria um equilíbrio na umidade do ambiente;
Absorve substâncias daninhas do ar;
Não tem resíduos de produtos químicos;
Absorção de odores e dissolução de gorduras.
Mais do que uma solução ecológica, é uma construção que não necessita obrigatoriamente de mão-de-obra especializada. Mas é importante seguir corretamente algumas das principais técnicas, como aponta o blog
Chácara Boa Vista. São elas:
Adobe
A massa básica do adobe é feita com terra local (60 a 70% de areia, 30 a 40% de argila) e água suficiente para que se obtenha uma massa plástica e moldável.
Como aditivo físico pode-se utilizar algum tipo de capim ou palha longa e como estabilizante químico usa-se o esterco de vaca ou cavalo. Ou seja, de preferência produtos não industrializados.
Um dos aditivos substitutos mais citados é a cal. É importante utilizar a cal hidratada. A quantidade sugerida é aproximadamente 10% do total da mistura, por exemplo, para cada 10 litros de terra (um balde) usa-se 1 kg de cal. Mesmo utilizando-se a cal hidratada é importante lembrar que a mistura pode “queimar”, então é recomendável usar luvas e botas para trabalhar.
COB
Esta técnica utiliza a mesma massa do adobe, porém diretamente no local da construção. São feitas bolotas com a massa e essas são assentadas umas ao lado das outras em camadas de até 20 cm. Faz-se todo o perímetro do cômodo a ser construído de uma só vez, respeitando as camadas. Cada camada deve estar bem seca antes de se começar a próxima camada.
Os cuidados com a fundação e cobertura são os mesmos que para as demais construções com terra crua. Esta técnica permite que se façam cômodos circulares e se agreguem esculturas na própria estrutura das paredes.
Taipa de Pilão ou Taipa Socada
A massa usada é apenas terra (60 a 70% de areia, 30 a 40% de argila) e água apenas para umedecer. Pode-se acrescentar 10% de cal na mistura.
Essa massa é colocada em uma forma instalada onde será levantada a parede e socada até tornar-se um bloco compacto. As camadas de terra devem ser pequenas e bem socadas.
Cada vez que se preenche completamente a forma, ela é desmontada e montada novamente acima do nível concluído e o processo continua até a altura desejada.
Segundo o blog
Casa da Montanha, essa técnica proporciona a construção de paredes muito sólidas e que depois de prontas recebem um bom reboco e pintura.
Taipa de mão ou Pau-a-Pique
Esta é uma técnica onde se utiliza uma armação de madeira ou bambu recoberta com barro.
Bastante utilizada no meio rural, sofre de alguns preconceitos, mas o trabalho sendo realizado com critério e rigor cria estruturas muito bonitas e agradáveis.
É importante que se faça uma boa fundação que isole as paredes da umidade do solo e também um bom sistema de sustentação da armação de madeira.
A massa utilizada para recobrir a estrutura é a mesma usada para o adobe, isso é, terra local (60 a 70% de areia, 30 a 40% de argila), água suficiente para que se obtenha uma massa plástica e moldável, algum tipo de capim ou palha longa e esterco de vaca ou cavalo.
A estrutura deve ser preenchida com a massa sem deixar buracos ou falhas. Após a secagem, por umas três ou quatro semanas, podem aparecer algumas rachaduras que devem ser fechadas com a mesma massa utilizada anteriormente.
Depois de mais um mês faz-se a aplicação do reboco utilizando-se uma massa de barro e cal. Depois de seco o reboco é só pintar.
As paredes de taipas apresentam menor resistência à compressão, então é recomendado que a cobertura dessas construções seja feita com materiais leves.
Cordwood (toquinhos de madeira)
A massa utilizada é composta de terra local (60 a 70% de areia, 30 a 40% de argila), mais serragem, cimento e cal. Ela é utilizada para assentar os tocos de madeira ou garrafas e assim forma-se a parede. Não se faz reboco sobre a parede acabada.
Superadobe ou Adobe-ensacado (AE)
A técnica consiste em preencher com terra sacos de polipropileno que são empilhados formando as paredes.
Cada camada assentada deve ser bem socada e um fio de arame farpado deve ser colocado entre as camadas para dar maior estabilidade ao conjunto.
Após a conclusão da estrutura faz-se um reboco como nas técnicas anteriormente descritas.
Desvantagens das construções em terra crua
As construções com terra devem ser protegidas da umidade. O barro não é um material impermeável e se desintegra rápido ao contato direto com a chuva;
Uma construção unicamente edificada com terra não é própria para edifícios com mais de um pavimento, principalmente em climas que não sejam secos;
O barro não é um material padronizado. A quantidade e o tipo de areia, argila e outros agregados varia de cada lugar onde a terra é extraída;
Ao secar, o barro se contrai e podem aparecer fissuras. Para diminuir este processo é necessário, (enquanto o barro seca), mantê-lo sempre umedecido para que não seque rápido demais.